quinta-feira, 25 de março de 2010

Ainda que cabeças rolassem, nada mudaria.

Tudo que se tinha daquela vida era a simplicidade dos sorrisos matinais, o brilho da adolescência nos olhos e uma pitada de irreverência em atitudes que, na época, mudariam a mundo. Todas as verdades e respostas sobre  as questões universais estavam alí, logo à frente. A TV, as revistas e todos os veículos midáticos davam o respaldo necessário, caso alguma questão angustiante surgisse e abalasse as pilastras que sustentavam as convicções, preconceitos e tradições daquela geração. A família, enquanto instituição importante, tinha o papel de ensinar a moral e os bons costumes, incluindo também os ensinamentos sobre como não raciocinar. No fim de semana, quem assumia o papel de moderadora e controladora da ordem eram as Igrejas, pois nada melhor do que o medo de uma possível visita ao "inferno" para ceifar a liberdade daquela geração. Os pais, junto a instituição religiosa, pregavam como era importante viver uma vida cristã, mas não sabiam sequer o significado real de Cristo. Ensinavam as orações e a importância de ir às celebrações aos domingos, mas nada retratavam sobre o amor e o respeito ao próximo. Propagavam aos sete cantos de suas casas os ensinamentos bíblicos, mas não se ouvia nenhum grito de repúdia contra a miséria humana - afinal, os miseráveis assumem tal condição por pura vagabundagem, não é? -. Nenhum sussurro sobre preconceito, muito menos sobre o respeito às diferenças. No entanto, se alguma alma "perdida" tivesse a ousadia de abalar tais estruturas, era brutalmente desmoralizada. Diante de um aparato tão coercitivo e impregnado na consciência coletiva, cabia apenas o silêncio e a angústia de ter a certeza - ao menos naquele momento - de que nada mudaria, ainda que cabeças rolassem.

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