terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Botões

Eu sempre acreditei na máxima Nietzschiana sobre a necessidade de ter dentro de si um caos, para que uma estrela cintilante possa vir à luz. As pessoas efusivas sempre me causaram certo receio. Nunca admiti - talvez por egoísmo ou por uma pitada de inveja - que elas sorrissem todo o tempo. O que me faz lembrar ,com saudades, de um amigo que sempre me diz o seguinte: "Aquele que é feliz o tempo todo, pra mim, tem olhos de botão." Quem assistiu Coraline com certeza entende o que ele quer dizer. Os botões, pregados na face de forma artificial, anulam toda a mágica capacidade de enxergar que olhos possuem. É muito mais senso de humanidade, carregado de alma, do que uma mera constatação fisiológica. Pode até parecer pessimismo niilista carregado de sentimentos suicídas, mas não é. Talvez seja só a certeza de que esse "mundo" é muito pequeno, tão pequeno que tudo o que há nele possui denominações, nomenclaturas específicas e por aí vai. Penso que dar nome às coisas é somente uma forma de causar a falsa sensação de segurança. Das pequenas delimitações surgem as instituções, e delas principiam as regras. E até onde eu sei, ordem e progresso sempre foram boas premissas pra quem tem botões no lugar de olhos. Difícil é entender qual a ordem que propaga um progresso baseado na eterna satisfação, sorrisos e shopping center.
Fecho esse texto sem fundamentos quaisquer com o seguinte trecho:
“Gatos não tem nomes… Vocês pessoas têm nomes. Isso é porque vocês não sabem quem vocês são. Nós sabemos quem somos, portanto não precisamos de nomes”. [Gato Preto, Coraline]