Hoje foi um dia como outro qualquer. Acordei cedo, tomei meu banho quente e aconchegante, me troquei e fui direto ao ponto ônibus. Não, eu não gosto muito de tomar café da manhã, meu estômago sempre acorda de mau humor, sabe?! Como de costume, entrei no ônibus e fiquei alienada a tudo que se passava em seu interior. Só observei a cara feia do cobrador e um garotinho que, num ato de muita cordialidade, pegou uma moedinha de 25 centavos que eu deixei cair no chão. Eu agradeci, com um leve sorriso, e ele me retribuiu de forma singela e alegre. Típica carinha de criança quando se sente útil ao fazer uma boa ação. Aquele ato iluminou o meu dia, por mais cotidiano que tenha sido.
Chegando ao terminal rodoviário, desci do ônibus e subi ao pavimento onde pego outro que me leva à universidade. Até aí tudo bem, nada demais. Entrei na linha 305 e sentei logo à frente, num banco individual, onde eu pudesse abstrair a vontade. No entanto, um homem de fisionomia comum entrou e sentou do outro lado, logo atrás de uma senhora e seu filho. Conversa vai, conversa vem, a senhora começou fazer uma crítica ferrenha à extinção dos cobradores, fato que me chamou muito atenção. Ela falava para um senhor de idade (aliás, de muita idade) sobre a importância dos cobradores;não simplesmente pela questão empregatícia, mas atentava para a importância social daqueles homens que, muitas vezes, estabelem vínculos com os passageiros. Seja por um simples sorriso acompanhado de um "bom dia", ou pelas estórias compartilhadas, as opiniões sobre a vida, os conselhos mútuos e as diversas piadas que alegram o momento que precede a atividade de estudantes, trabalhadores, crianças e donas de casas.
O corte dos cargos dessa categoria não traz apenas a diminuição de oportunidades e o consequente desemprego para vários trabalhadores, mas apresenta também um corte nas relações humanas, nas trocas culturais, na própria linguagem cotidiana, enfim, na comunicação entre as pessoas de diferentes lugares, etnias e histórias de vida.
Numa época em que o toque, a sensibilidade, a comunicação e o diálogo estão em processo de extinção, é válida a reflexão sobre a importância social e cultural de pessoas que, muito mais do que simples trabalhadores de um cargo qualquer, acabam por manter viva a semente de humanidade que existe na simplicidade.